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textos jornalísticos

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on March 9, 2008 at 4:28:41 am
 

 

 

Padres, Polícias e Professores - os 3 Pês

Helena Barbas

 

 

No tempo da outra senhora (que por acaso era um senhor) havia três profissões altamente consideradas pelos mais diversos motivos. Um deles o de serem os pilares da sociedade: os Padres, os Polícias e os Professores.

 

Hoje em dia encaminham-se para a zona da escumalha. Sobre os Padres não me pronunciarei. Sobre os Polícias, basta ver os noticiários – fazem manifestações e greves como o comum dos mortais, andam maldispostos pela perda de regalias, sentem-se impotentes para cumprir as funções para que foram ajuramentados.

 

Quanto aos professores, foram transformados no bode expiatório de todos os desaires financeiros do estado, de todos os défices dos últimos governos, como se fossem os únicos funcionários públicos do universo.

 

Começando pelo excesso de professores em particular na área das línguas, gostaria de fazer notar que isso se deve a más decisões governamentais, quando em finais dos anos setenta a reforma dos cursos superiores de literaturas se virou, por decreto, para o ensino de línguas estrangeiras no secundário. Parece que, na altura, o estado tinha falta de professores. E por tal eram todos obrigados – mesmo os que não queriam seguir a via do ensino – a tirarem um curso que só lhes dava essa saída profissional. Quem não fizesse estágio, ficava com uma licenciatura de segunda classe.

A cena agravou-se com a abertura das ESES, e mais uma decisão governamental pouco inteligente, que não deixou as universidades modificar os curricula de modo a encontrar alternativas ao sobrepovoamento da área. Também ninguém imaginou então o efeito do abaixamento demográfico nesta conjuntura. Agora, há professores a mais. Agora, os professores são uns facínoras, uns «calões» que trabalham menos horas que os outros, e pretendem ter mais regalias em termos de assistência social e reformas.

 

Embandeira-se em arco porque as escolas ficam abertas mais tempo, porque os professores passaram a ter que ser também «baby-sitters» dos filhos dos trabalhadores que, esses sim, chegam a casa cansados depois das 6 da tarde. E fala-se em ensino de excelência. Um paradoxo. Nenhum professor, mesmo o mais «calão» consegue fechar a porta do escritório às seis: tem aulas e reuniões para preparar em casa, testes para ver e, teoricamente, leituras a fazer para se manter actualizado. Alguns até têm que dar assistência à sua própria família. Havia o escape das férias, que nalguns casos permitia compensar o desgaste que se ia acumulando em cada semestre, mas também esse se foi. Nenhum ser humano consegue estar a tomar conta de crianças seis horas por dia, e sair fresco para desempenhar qualquer tipo de trabalho intelectual. É difícil conseguir um ensino de excelência com professores estafados, desempregados, com contratos a prazo, e a terem vergonha de dizer publicamente qual a sua profissão.

Resta-nos a alternativa dos robots.

 

 

[Pisa-Papéis – 16 de Junho de 2006 - inédito]

 

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