Urbano Tavares Rodrigues
Violeta é a Noite
Um romance políptico que se afirma uma despedida.
Datado entre Junho de 1989 e Setembro de 1990, este último romance de Urbano Tavares Rodrigues aparece dividido em cinco capítulos, ou «volantes», cada um deles dedicado a uma personagem.
No primeiro, surge o escritor Heitor Lacerda, eterno apaixonado por Violeta, que o abandonou para casar com Valério. No segundo, Rute, amiga-amante de Valério, amiga da ex-amante de Heitor - Marília -, narra os seus problemas profissionais e familiares. Rute passeia-se com as cartas de Valério na mala que, em sua representação, se reproduzem no 3º. volante. Seguem-se-lhe os pesadelos de Marília e, por fim, Violeta diz-nos os últimos momentos da doença de Valério, que correspondem, naturalmente, ao terminar da sua relação. O monólogo final, do abandono, transforma-se num diálogo, que deixa uma réstea de esperança.
Dois homens e três mulheres ligados pelo amor, pela amizade, mas também pela inveja e pela rejeição, que se debruçam sobre a doença e morte do ex-Adónis Valério. Exibida inicialmente como protagonista, Violeta cede o lugar ao seu marido, cuja agonia, a partir de diversas perspectivas, é observada pelos vários olhares, num «voyeurismo» da morte. Morte a que se aspira, pelo tema da eutanásia, que se deseja, pela personificação em Violeta.
Violeta em volantes, como os polípticos da pintura (J.L.,30.04.91), os quadros que necessitam ser emoldurados e juntos entre si para ganharem sentido, para não se diluirem no espaço envolvente: metáforas de um mundo que perde os seus contornos, que exige um esforço de disciplina para que se mantenha no seu lugar. Volantes também como as folhas dos tradicionais romances de cordel, fragmentários, frágeis e efémeros.
Este romance é uma despedida, já que Urbano T.R. nos avisa que pretende regressar ao mágico, ao fantástico. Quanto mais não seja por isso, não perca esta Violeta.
Helena Barbas [O Independente, 30 de Maio de 1990, III p.61] - versão integral
Violeta é a Noite - Urbano Tavares Rodrigues, Europa-América, Lisboa (1991)
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