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T S Eliot - Quatro Quartetos

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T. S. Eliot


Quatro Quartetos


Os lugares da memória - uma belíssima e nova tradução de T. S. Eliot

 

   Thomas Stearns Eliot (1888-1965) nasceu em St. Louis, nos Estados Unidos, no mesmo ano que Fernando Pessoa - seu par em termos poéticos com igual peso no que se conveio chamar Movimento Modernista. Estudou em Harvard, na Sorbone e Oxford. Em 1914 muda-se para Londres, adquirindo a nacionalidade inglesa em 1927. Publica o seu primeiro livro de versos Prufrock and Other Observations em 1917. Seguem-se-lhe Poems (1920), o muito famoso The Waste Land (1922) e Ash Wednesday (1930). Os poemas que vêm a constituir Four Quartets – os Quatro Quartetos – são escritos e editados separadamente entre 1935-42, entre as duas Grandes Guerras, antes do Nobel que recebe em 1946.

 

   Neste conjunto de quatro poemas que trazem por título o nome de espaços geográficos – «Burnt Norton», «East Coker», «Dry Salvages» e «Little Gidding» – Eliot repete as estratégias de escrita que instauram a ruptura com a geração anterior, e se acabam por demarcar como específicas do Modernismo: a citação e a colagem, o recurso a variado simbolismo e alusões literárias, o metro a oscilar entre os modelos tradicionais e o registo da coloquialidade, o fragmentário.

 

   A atenção principal que este livro suscita surge de ter sido escrito em tempo de guerras, mas também por ser o primeiro após a conversão de T. S. Eliot ao anglicanismo – motivo que leva alguns dos seus críticos a verem nele marcas de uma exacerbada religiosidade, o abandono de um certo niilismo, uma viragem em direcção à esperança e à salvação. Todavia, parece antes que se trata de um conjunto de poemas que avança em direcção à música: o desenvolvimento de um mesmo tema (o tempo), em quatro vozes diferentes organizadas em contraponto. Ou a mistura dos quatro elementos – terra, água, fogo e ar – que se combinam para compor, e decompor, toda a matéria, unidos por uma quinta-essência.

 

   Cada poema corresponde à revisitação de um espaço geográfico, um percurso físico que equivale a uma deambulação pelos lugares da memória – pessoais e colectivos – sempre um pretexto para exibir o irrecuperável: «Sons de passos ecoam na memória,/ Descem o caminho que nós não seguimos/ Em direcção à porta por nós nunca aberta/ Para o jardim de rosas./ As minhas palavras ecoam/ Assim, no teu espírito./ Mas com que propósito/ Perturbam o pó numa taça de folhas de rosa/» (pág.25). Em termos colectivos, no retomar de versos e referências literárias que se incrustam no texto como propriedade do sujeito – tal o «mezzo del cammin di nostra vita» de Dante: «E assim aqui estou, no meio do caminho, tendo passado vinte anos,/ Vinte anos muito mal gastos, os anos de “entre les deux guerres” -/ A tentar aprender a usar as palavras, e cada tentativa/ É um inteiro recomeço e um diferente tipo de fracasso/ pois apenas se aprendeu a tirar o melhor das palavras/ Para aquilo que já não tem que se dizer, ou para a maneira pela qual/ Já não se está na disposição de o dizer./ (pág.51). Também as palavras, medievais ou caídas em desuso, se ressuscitam pelo mesmo processo, trazendo implicações arcaicas e ocultas ao presente do discurso.

 

   Por tudo isto é evidente que se torna difícil transpor estes versos para português. É de louvar o trabalho de Gualter Cunha, muito fiel ao sentido, e a conseguir uma reprodução dos ritmos bem eliotiana. Um belíssimo livro, com prefácio, a substituir a tradução já existente e há muito esgotada, feita em 1963 por Maria Amélia Neto (Ática).

 

Helena Barbas [Expresso, 2004]

 


Quatro QuartetosT. S. Eliot - Trad. e introd Gualter CunhaRelógio D’Água, 2004


 

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