Rainer Maria Rilke
Histórias do Bom Deus e outros textos
Pequenos textos em prosa da mão de um poeta
Tido como o maior poeta em língua alemã do nosso século, o checo Rainer Maria Rilke (1875-1926) é-nos agora apresentado como prosador. Neste livro foram reunidos muitos dos seus trabalhos que incluem contos, apontamentos de viagem, esboços - ou daguerreótipos - humanos.
A repetição de imagens e temas levam a suspeitar que estas prosas constituem pequenos ensaios, exercícios de aperfeiçoamento de uma escrita que só vem a atingir o seu auge nos poemas da maturidade (1923) – já publicados entre nós em 1942, 1967 e 1969 sob tradução de Paulo Quintela, e reunidos em volume pela Editora "O Oiro do Dia": Poemas, As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu (Lisboa, 1983).
Rilke é, por isso, um autor «tardio», e tanto o evoluir do seu pensamento, quanto da sua prática de escrita, são pautados por ocorrências de carácter biográfico – encontros e viagens. Destes, podem destacar-se como fundamentais a ida à Rússia, em busca de Lou Andréas Salomé, onde se cruza com Tolstoi (1899-1900); a sua permanência em Paris, primeiro como biógrafo e depois secretário do escultor Rodin (1905-6); e a estadia em Trieste, no Castelo de Duíno(1911-12).
Por estes motivos – recorrência temática e importância da biografia - uma edição das prosas exige um confronto com os textos poéticos, pelo menos em nota, o que não acontece. No mínimo, seria necessária uma referência às respectivas datas de escrita ou publicação, o que se faz apenas esporadicamente. Torna-se difícil entender qual a linha orientadora deste volume - embora o breve prefácio refira que «obedece à organização, com adaptações mínimas, que foi estabelecida por Paul de Man» (p.5).
Os textos, que vão de 1898 a 1919, aparecem conglomerados sem respeito pela cronologia, por uma temática, por qualquer tendência evolutiva, ou sequer por um critério de escola ou «qualidade». Ainda, e para além de deficiências de tradução ou tipográficas - como frases sem verbo -, há discrepância entre a ordem dos escritos no corpo do volume e o índice, o que agrava a desconfiança quanto aos processos seguidos.
A intenção, meritória, de divulgar zonas menos conhecidas das literaturas ou autores estrangeiros, não fica, por isso, ilibada de um mínimo de cuidado editorial. E menos ainda quando - como neste caso - o valor literário dos textos publicados depende, claramente, do restante conjunto da obra de um autor.
Helena Barbas [Europeu, 1989]
Histórias do Bom Deus e outros textos - Rainer Maria Rilke - Trad. de Maria Gabriela Cardote - Livros do Brasil, 1989
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