Pedro Almeida Vieira
O Profeta do Castigo Divino
Um romance histórico sobre a venturosa vida de Gabriel Malagrida
Pedro Almeida Vieira é bastante jovem, e conta já no curriculum com um ensaio premiado e dois romances históricos de peso. O primeiro, em 2ª. edição – Cem Mil Passos – centra-se sobre a figura de Francisco de Holanda e a construção do Aqueduto das Águas Livres – uma extraordinária façanha arquitectónica, ainda hoje no Guiness.
O segundo romance agora publicado, também sobre o mesmo período, é dedicado à vida e obras do jesuíta Gabriel Malagrida (1689-1761), que se distribuem entre o Brasil e Portugal. É este herói um dos muito estranhos místicos extravagantes entre as anómalas figuras da nossa história, por momentos apresentando algumas semelhanças com o seu quase contemporâneo Abade Faria (1756-1819) que inspirou Dumas. Malagrida anda mais acompanhado do que pensa, por um narrador muito especial que logo no «antelóquio» lhe resume o destino: «Como o mundo dos humanos é caprichoso e cruel. Eu até já assisti a muitos homens e mulheres serem considerados heréticos em vida, mas que, depois de mortos, acabaram santos. Mas eis que contigo sucederá o oposto: passarás de santo vivo a herético morto. Triste desfecho o teu.» (pág. 15).
É pois sobre este percurso às avessas que o romance se vai centrar. Começa com o regresso do Santo do Maranhão a Lisboa, numa entrada do porto com prenúncios de naufrágio, no dia 1 de Fevereiro de 1750. Um talvez-milagre que serve de pretexto ao narrador para exemplificar e ir detalhando todos os outros acontecimentos invulgares, e inesperadas consequências que vão tendo as acções do protagonista.
Perante as tempestades e excessos de calmia, no mar e em terra, o jesuíta tenta por artes mais ou menos científicas e trampolinices mágicas, dominar a natureza, os homens, o mundo. Não sabe que o narrador lhe vai tentando frustrar os esforços, acabando este muitas vezes malogrado sem o jesuíta o saber.
A história é assim contada por um narrador, que também é personagem e oponente do herói. O herói conhece-o bem, é o seu grande inimigo, mas nem desconfia do papel que este vai desempenhando em todas as situações e circunstâncias. Cria-se assim uma conjuntura de intriga dupla, com duas hipóteses de resolução em cada momento, que reiteram o papel de cúmplice secreto atribuído ao leitor. Uma estratégia semelhante à que foi usada no romance anterior, mas com efeitos mais surpreendentes por ter evoluído para uma maior simplicidade – nos modos como suscita um sorriso da primeira à última página, como transforma o que poderia ser uma pseudo biografia banal num fantástico e divertido romance cheio de informação histórica e linguística.
Helena Barbas [Expresso 2006]
O Profeta do Castigo Divino - Pedro Almeida Vieira - Dom Quixote, 2005
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