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Nag Hammadi

Page history last edited by PBworks 16 years, 11 months ago

 


Nag Hammadi


 

   Foi em Dezembro de 1945 que se deu uma das maiores descobertas de textos de carácter religioso, com enorme peso e influência em toda a tradição ocidental. Encontraram-se em Nag Hammadi, no Egipto, 1156 páginas escritas dos dois lados, em copta, encadernadas em cabedal, antecipando os nossos livros modernos. Terá sido um camponês Mohammed Ali Sammanquem, inadvertidamente, desenterrou uma ânfora de barro selada contendo 13 volumes de manuscritos. Levou-os para casa, e a mãe terá chegado a usar algumas folhas para atear o fogo na cozinha.

 

   Terá confiado uma primeira parte dos textos a um religioso, Al-Qummus Basiliyus Abd el Masih, que por sua vez os envia ao historiador Raghib. Depositados no museu Copta do Cairo, virão a ser estudados pelo egiptólogo francês Jean Doresse, e Toga Mina, o seu director. Uma segunda parte dos manuscritos cai nas mãos de Bahij Ali, conterrâneo de Ali Samman, que os negoceia com um antiquário, Focion Tano.

 

   Antes que o Museu os consiga recuperar, o codex nº. 14 terá sido sucessivamente vendido a Alfredo Malardi, e depois Thomas A. Malko, que morrem em circunstâncias insólitas. A última informação coloca-o na posse de Peter Volker, e desaparecem ambos em 1975. Os restantes são comprados por uma italiana, vindo a constituir a colecção Dattari que, em 1952, se torna propriedade do Museu do Cairo. Uma terceira parte é vendida no mercado negro e recuperada pelo antiquário egípcio Albert Eid, que os deposita num cofre-forte na Bélgica. A viúva de Eid vende-os a Gilles Quispel, representante da fundação Jung de Zurique.

 

   Além dos tratados gnósticos – entre eles os Evangelho de Tomé e Filipe – os volumes incluem 3 obras pertencentes ao «Corpus Hermeticum» e uma tradução parcial da República de Platão. Pensa-se que se trata de uma biblioteca escondida pelos monges do mosteiro de S. Pacómio para escaparem à censura por heresia. Terão sido compostos em grego pelo século II, e depois traduzidos para o copta. O copta, a última das versões da linguagem egípcia, usa o alfabeto grego modificado para substituir os hieróglifos, e foi utilizado entre 200 e 1100 d.C.

 

   Quanto à datação dos manuscritos em si há um pequeno debate. O exame dos papiros usados para encher as encadernações de couro, e a escrita copta, colocam-nos em cerca 350-400 d.C. Mas os estudiosos discordam ferozmente quanto à data dos originais. Alguns deles dificilmente poderão ser anteriores a cerca de 120-150 d.C., dado que Ireneu de Lião, a escrever por volta de 180 d.C., declara que os hereges «se gabam de possuir mais evangelhos do que realmente existem», e lamenta que no seu tempo tais escritos tenham alcançado vasta circulação – da Gália através de Roma, Grécia e Ásia Menor.

 

   Depois de tantas atribulações, agravadas por uma Guerra Mundial, a primeira tradução completa sai em inglês, dirigida por J. M. Robinson, com o título The Nag Hammadi Library in English, em 1977 (com terceira edição revista em 1988). A presente publicação em português decorre de uma nova tradução dos autores espanhóis efectuada sobre o fac-símile fotográfico dos códices originais.

 


Helena Barbas [Expresso, 2006]  


 

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