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Lilian Lee - A Última Princesa da Manchúria

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Lilian Lee


A Última Princesa da Manchúria


A jóia do Oriente: aventuras e desventuras de uma Mata-Hari asiática

 

   Um dos nomes de guerra dados à chinesinha Hsien-Tzu Aisin-Gioro foi «A Jóia do Oriente». Antes ainda é rebaptizada em japonês como Yoshiko Kawashima; depois, «Comandante Chin Pi-hui do Exército de Pacificação do Manchucuo», sendo também conhecida como a «Vénus de Uniforme» e a última princesa da Manchúria: apodos diversos a marcar as várias fases da sua vida, metamorfoses da personalidade, acontecimentos históricos. Hsien-Tzu é a décima quarta dos 38 descendentes do príncipe Su, ele próprio deposto e derradeiro representante da dinastia Ching na Manchúria. E de entre todos os herdeiros, Su elege aquela sua filha como a única capaz de vir a conseguir restaurar o perdido esplendor da família - um projecto secreto, longa e cuidadosamente preparado.

 

   Menina e moça de sete anos, Hsien-Tzu é levada de casa de seus pais para longes terras nipónicas, onde será educada. Recebe-a como tutor, mentor e guia o simpatizante da causa Ching Naniwa Kawasima, que lhe mudará o nome e cederá o apelido - o primeiro dos muitos homens por quem será traída. Naturalmente, o passo óbvio para concretizar o objectivo paterno será o casamento com um primo - uma tentativa falhada.

 

   Pelos 20 anos, a bela, inteligente, e ainda não rica Yoshiko, porque não quer perder tempo - o bem mais precioso de uma mulher -, pede protecção a outro japonês, Shunkichi Uno, em cuja organização passa a trabalhar como agente-espia: «Dominando tanto a língua chinesa como a japonesa, movia-se livremente entre esses dois mundos; e mudava de aparência com a mesma facilidade, passando de vestidos europeus a quimonos, de quimonos a cheongsams, de cheongsams a vestidos de noite cujas bainhas beijavam o chão. Por vezes, Yoshiko era uma mulher; outras vezes era um homem» (pág. 106).

 

   Começa a tomar parte em operações de carácter político na altura em que o Japão invade a Manchúria (1931). Atacado por Kwantung, o Exército chinês obedece à ordem de retirada de Chiang Kai-shek. Em menos de um ano os japoneses controlam a província. Para legitimar a ocupação, repescam um chinês - Pu-yi - o deposto imperador Ching.

 

   Trata-se este, exactamente, do herói de Bertolucci no filme O Último Imperador. Quem se recorde da obra talvez consiga identificar a personagem aí secundária de Yoshiko Kawasima: é ela a perversa figura feminina que seduz e corrompe Wang-Jung, a imperatriz já dominada pelo ópio, e a enfia numa ambulância a caminho da Manchúria, para se juntar ao marido.

 

   Um outro filme, agora de Chen Kaige, nos evoca este romance, feito a partir de outro romance desta mesma autora: Adeus Minha Concubina. Lilian Lee - aliás, conhecida em Hong Kong como Li Pik-Wah - escolhe o mesmo período complexo e conturbado; continua a preocupar-se com idênticos problemas de fidelidades políticas, conflitos amorosos e colaboracionismo. Da prostituta Juxian ecoam em Yoshiko os excessos e as manipulações, seduzindo agora amigos e inimigos, porque lhes sugere «os actores do Kabuki, que no palco retratam personagens femininas - o secreto ideal de todos os homens japoneses» (pág. 106).

 

   Mas também a própria Yoshiko Kawashima já mereceu honras de um filme (menor) com o seu nome, realizado por Fong Ling Ching em 1990, onde a Mata-Hari asiática é encarnada por Anita Mui Yim-Fong.

 

   A Última Princesa da Manchúria foi escrito em chinês e vertido em inglês por Andrea Kelly. Embora a tradução de José Vieira de Lima seja impecável, ressente-se discretamente a distância dos traslados. Um pormenor de somenos, que não destrói o prazer de descobrir as aventuras e desventuras desta cruel e frágil princesa maldita.

 

Helena Barbas [Expresso, 1997]

 


A Última Princesa da Manchúria - Lilian Lee - Trad. José Vieira de Lima - Asa, 1997


 

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