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José Riço Direitinho - Um Sorriso Inesperado

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José Riço Direitinho


Um Sorriso Inesperado


Belos contos brevíssimos num belo livro

 

   José Riço Direitinho está a fazer um percurso literário à revelia de modas e velocidades. Estreou-se em 1992 com os contos de A Casa do Fim, a que se seguiram outras narrativas: Breviário das Más Inclinações (1994), O Relógio do Cárcere (1997) e Histórias com Cidades (2001). Aumentou o intervalo entre as suas produções, sucessivamente mais cuidadas. Em Um Sorriso Inesperado (2005) regressa ao conto: a sua arte de eleição e a que melhor o serve.

 

    São cinco histórias cujas interdependências começam a ser criadas pelos títulos - «Um Sorriso com Sardónia», «As Flores das Estevas Chegaram com a Manhã», «Sóbrios Cheiros Premeditados», «Amor Num Aroma Intenso a Jasmim» e «O Fidalgo Louco». A predominância das plantas e das fragrâncias nas primeiras opõe-se à última, fora destas associações depois, também pelo estilo. Em comum têm o tema da morte, dos suicídios por amor - todo o tipo de amores. E são cingidas num espaço narrativo circular demarcado pelas epígrafes.

 

   Há uma dedicatória inicial feita a uma Senhora Dona Angélica Maria Irene von Herz-Hardenberg, que se transformará em personagem no último conto, casando-se com o fidalgo louco, que lhe acrescenta ao nome «y Castro de Queiroás». Um segundo encerramento é feito pelas citações retiradas de A Morte de um Apicultor, de Lars Gustafsson, sob cuja égide coloca assim o volume, subordinando ainda cada conto, por novas inscrições, ao diálogo secreto com outros autores e textos (até mesmo os seus).

 

   São pois contos sobre morte, amor, ervas, aromas e a louca humanidade a que José Riço Direitinho nos habituou. Qualificam-lhe a escrita como realista, rural, fantástica. Talvez. Mas aqui torna-se evidente que o efeito de fantástico é dado pela ausência do transcendente, pela rasura de explicações psicológicas para os comportamentos, por desencontros éticos que acordam a oposição entre o animal e o social. E o efeito torna-se mais poderoso por recorrer a uma estética da brevidade.

 

    Teoricamente, o conto é a mais pequena unidade narrativa tornada aqui ainda menor por cortes sucessivos - marcados graficamente por travessões, parênteses, parágrafos, itálicos. Estas cesuras acabam a cumprir uma dupla função. Por um lado, ostentam outros tantos níveis de discurso, de vozes narrativas, tornando o conto polifónico e vertical; por outro, exibem e obrigam a que se assuma o fragmentário. Tecnicamente, atomizam o conto, exaltando o pacto narrativo e expondo o trabalho implícito no acto de leitura. O autor lega-nos o seu desejo de que se criem sentidos entre elementos que podem não ter qualquer relação entre si - estilhaços unidos apenas pelo acto de narrar - cedendo-nos a liberdade e responsabilidade da reconstrução dos significados.

 

Helena Barbas [Expresso, 2005] 

 


Um Sorriso Inesperado - José Riço Direitinho - Asa, 2005


 

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