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Italo Svevo - A Consciência de Zeno

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Ítalo Svevo


A Consciência de Zeno


A vida é uma doença mortal

 

   Ítalo Svevo é o pseudónimo onde Ettore Scmitz, nascido em Trieste em 1861, regista as suas origens, italiano pela mãe judia, suevo por via do pai. Estuda na Alemanha, embora regresse cedo a Trieste. Aí, em 1903, frequenta um curso de inglês leccionado por James Joyce. Será este - junto com Eugénio Montale e Valérie Larbaud - quem promoverá o sucesso literário de A Consciência de Zeno, publicado a expensas do autor em 1923.

 

   Diz-nos o Prefácio: «Sou o médico de quem se fala em termos pouco lisonjeiros no relato que se segue. Seja quem for que tenha umas noções de psicanálise saberá interpretar a antipatia que o doente manifesta por mim.» O médico receitou a escrita autobiográfica como terapia - que falha. E irá publicar as memórias do doente por vingança.

 

   As memórias são de Zeno Cosini, 57 anos, fumador inveterado e muito especial: sofre do prazer do último cigarro e de uma doença da vontade, uma (in)decisão que é o fio da narrativa e da sua vida: «A história dos últimos cigarros, que principiou quando eu tinha 20 anos, ainda não deixou de me atormentar. A minha resolução é agora menos enérgica, (...) Quando se é velho, sorri-se da vida e de tudo o que ela contém. Posso até dizer que, desde há algum tempo, fumo bastantes cigarros que... não são os últimos» (pág. 14). É este combate interior inventado por si, a mostrar que o heroísmo não precisa de grandes obstáculos para ultrapassar grandes conflitos, que determina todo o seu comportamento afectivo, familiar, sexual. Esquece-se de chamar o médico para o pai moribundo; conhece três irmãs e casa com a de quem menos gosta; engana-se no funeral do melhor amigo e segue o cortejo de um desconhecido. A frustração dos projectos levam-no a sentir-se espectador das coisas que lhe acontecem. Por acaso, ou por destino, a sua vida - regida por motivações inconscientes - é uma sucessão de «lapsus» freudianos que se revelam como paródia à psicanálise nascente.

 

   Em 1910, Svevo havia pensado traduzir A Interpretação dos Sonhos, de Freud (1900). O caderno vai ser enviado ao tal Dr. S. - Sigmund?: «Julga ele que vai receber a confissão de um doente, de um fraco! Pois engana-se! Receberá a descrição duma saúde sólida, perfeita - tanto quanto o permite a minha idade. Estou curado. Não só não quero entregar-me à psicanálise como não tenho necessidade dela» (pág. 353), e explica-nos: «A dor e o amor, a vida em suma, não deve ser considerada como uma doença só pela razão de que faz sofrer» (pág. 354).

Svevo, autor de comédias, torna ironicamente divertidos os aspectos mais absurdos da vida, e ridículos os esforços dos homens para a dominar.

 

Helena Barbas [Expresso, 2003]

 


Consciência de ZenoÍtalo Svevo -  Trad. de M. Franco e C. do Nascimento - Minerva, 1984


 

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