Dan Brown
Anjos e Demónios
O fantasma dos tempos no primeiro livro de Dan Brown, na cauda do sucesso comercial de O Código Da Vinci
Na página oficial de Dan Brown (http://www.danbrown.com/) vem escarrapachada a receita para o fabrico deste seu livro: «Uma sociedade secreta antiga, uma arma de destruição devastadora, um alvo impensável.» Acrescentem-se-lhe uns pozinhos de teoria da conspiração a preto e branco e fica perfeita.
Anjos e Demónios, porque anterior a O Código Da Vinci, tem muitas semelhanças com aquele em termos de construção narrativa, embora não apresente a mesma economia no jogo entre a acção e as descrições. Num delírio caleidoscópico, Robert Langdon é chamado ao CERN, um laboratório suíço onde se fazem muito secretas investigações, por causa da morte de um cientista; e depois ao Vaticano, onde começaram a morrer cardeais em conclave. A sociedade secreta agora é a dos Illuminati, com antecedentes históricos tão pouco fidedignos quanto a do Priorado de Sião. E o artista, Gianlorenzo Bernini (1598-1680), o principal escultor do barroco italiano. Mais conhecido hoje pelo Êxtase de Santa Teresa (1645), Bernini também foi pintor e arquitecto de renome - são da sua autoria as colunatas da Praça de São Pedro, alguns túmulos, bem como inúmeros anjos, fontes e obeliscos dispersos por Roma. Bernini terá sido um dos Illuminati (tal como Galileu).
Há então um papiro, com um poema-mensagem enigmático, que vai levar o herói, junto com a sua bela companheira, a cientista-detective Vittoria Vetra, a viajar por Roma em busca das pistas e chaves deixadas na pedra pelo escultor. A arma devastadora é uma «bomba de antimatéria» que, a par com aquela sua capacidade, pode demonstrar cientificamente a existência de Deus. Porque a tese é provar que «a ciência e a religião não são contraditórias. A ciência é simplesmente demasiado jovem para compreender» (pág. 89).
Não se pode negar que o homem tem imaginação e que conhece muito bem as ferramentas do seu ofício. Estruturalmente, os seus romances têm várias linhas de intriga a funcionar em simultâneo. Quando um conflito se resolve, já deu início a outro e há um terceiro a meio. Isto, em termos práticos, «agarra» mesmo o leitor. Os modos de usar a teoria da conspiração já se encontram em Arturo Pérez-Reverte. Mas também sabemos que os truques e efeitos especiais, por si só, não chegam para justificar o sucesso que os livros de Dan Brown alcançaram. Apanhou o «zeitgeist», o fantasma destes nossos tempos, e deu-lhe voz usando e actualizando o modelo do romance de aventuras do século XIX.
Helena Barbas [Expresso, 2005]
Anjos e Demónios - Dan Brown - Trad. de Mário Dias Correia - Bertrand, 2005
Comments (0)
You don't have permission to comment on this page.