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Casimiro de Brito - Livro das Quedas

Page history last edited by Helena Barbas 15 years, 5 months ago

 

Casimiro de Brito


Libro delle Cadute / Livro das Quedas


 Histórias e poesia numa nova e dupla obra

 

   Estes dois livros têm uma estranha relação entre si. Primeiro foi publicada uma antologia bilingue português-italiano com o título Libro delle Cadute (Roma, 2004). A escolha e a tradução de cerca de 40 poemas foram feitas por Manuel Simões, que os faz acompanhar de um belíssimo prefácio, bem como por uma «Posfazioni», pequeno ensaio de Paolo Ruffilli sobre a obra de Casimiro de Brito. Recebeu então o Prémio de Poesia Aleramo-Luzi para o Melhor Livro de Poesia Estrangeiro. Só depois foi publicado o original português, Livro das Quedas, com 124 poemas, obedecendo às mais variadas formas e registos e por esta via distanciando-se da produção última do poeta.

 

   A unidade interna é conseguida no retomar de versos e recuperar de imagens, mas principalmente pela evidência que se vai construindo no entretecer de poesia e História. História com maiúscula, dos acontecimentos e lugares do mundo, dos nomes e referências literárias, das citações, a entrelaçar-se com episódios de uma biografia que passou a ser meramente poética: «Em Delfos, sob as oliveiras,/ partilhámos em silêncio/ um segredo: imortais/ por um momento. Depois veio o medo, vieram as palavras,/ a corrupção. O corpo amante regressou/ ao luto e às estrelas» (pág. 76).

 

   Escreve-se a vida e, por consequência, a efemeridade e a morte: «Houve um tempo em que eu dizia/ em versos gravados na boa pedra,/ a morte não existe. Existia./ À sombra do pó acumulava-se/ o reflexo dos espelhos/ tantas vezes quebrados, estilhaçados/ no chão dos dias. Leio/ o pálido fogo/ na pele das coisas que me tocam/ leves - partículas/ de chumbo/ que se vão instalando/ na flor dos ossos. Houve um tempo/ em que eu dizia,/ lírica filosofia,/ que a morte vai com as aves e vem/ com os rios. Não sabia/ que também meus olhos/ partem tristes» (pág.18).

 

   Todos os eventos se transmudam pela palavra em poema, mas não adquirem por isso a eternidade. Sofrem o castigo imposto a Adão e Eva à porta do Éden, a sujeição ao tempo, ao sofrimento, à morte (aqui «noiva» e «loba»): «A morte está no ar, evoluindo/ com seus anéis/ sobre a terra nua. A nuvem/ não se reflecte nos espelhos/ nem dela posso dizer que se oculta/ .../ - ela sabe/ que todos vão cair na sua morada./ Uma loba não se deixa trocar por outra/ nem a morte que chega/ é vitoriosa» (pág 135). Há uma tomada de consciência barroca do regresso ao pó. A queda genésica multiplicou-se num plural que se alastra a todos os pequenos momentos da vida, contaminando a sua exaltação. Deles se destilou o poema.

 

Helena Barbas [Expresso, 2005]

 


 Libro delle Cadute / Livro das QuedasCasimiro de Brito, Ant. e trad. de Manuel Simões, Casta Diva (2004) Roma Editora (2005)


 

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