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500 Cantigas de Amigo

Page history last edited by Helena Barbas 15 years, 5 months ago

 

Rip Cohen (ed.)


 500 Cantigas d’Amigo


 

A coita das amigas numa compilação das mais polémicas cantigas da tradição galaico-portuguesa

 

   Há alguns anos que Rip Cohen, professor de origem americana, se anda a debruçar sobre esta área dos primórdios da literatura portuguesa. Apresenta-nos agora um tomo com 500 Cantigas d’Amigo, «compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas». Recorde-se que, nas cantigas de amigo, a «coita» é enunciada por um sujeito feminino, que se lamenta a Deus, à mãe, às amigas, à natureza (ou ao próprio amigo), pelos seus amores menos correspondidos: «Ai Deus, que doo que eu de mi ei./ por que se foi meu amig’e fiquei/ pequena e del namorada// Quand s’el ouve de Julhan a ir,/ fiquei fremosa, por vos non mentir,/ pequena e del namorada// Ali ouv’eu de mha morte pavor/ u eu fiquei mui coitada pastor/ pequena e del namorada» (Pêro de Veer, pág. 355).

 

   Neste volume, resultado evidente de um trabalho monumental, encontramos logo a abrir uma afirmação que atesta o que nele pode haver de novo e provocador. Diz-nos Cohen: «É o maior ‘corpus’ de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa medieval e antiga. Oferece um campo ainda pouco explorado para o estudo da voz feminina, ou seja, do discurso, do direito, da sexualidade, da mentalidade (por muito que essa voz possa ser manipulada, os aspectos arcaicos destes poemas, a nível social, linguístico e musical, sugerem que essa voz é genuína nas suas origens).» E acrescenta em nota: «Apesar das atribuições e do papel dos homens como compositores, executantes e escribas, estes não podem ‘ser donos’ de uma tradição poética que foi passando de mãe para filhos durante séculos. Alguns desses filhos presumivelmente foram esses autores» (pág. 53). Temos assim em embrião uma nova tese feminista sobre a origem das cantigas de amigo, que se vem juntar às teses «folclórica», «litúrgica», «arábica» e à «médio-latinista» propostas por Rodrigues Lapa e António José Saraiva.

 

   Ainda na introdução elabora uma tipologia dos elementos que lhe permitem distinguir este tipo de poemas das outras práticas contemporâneas e informa detalhadamente sobre os critérios seguidos para a fixação dos textos, transcritos de novo por si a partir dos vários manuscritos, que também foi cotejando uns com os outros. Critica as edições anteriores - sejam parcelares, sejam na sua totalidade, como a de José Joaquim Nunes (1926-28) -, propondo, por via da métrica, a correcção de algumas leituras e divisões estróficas.

 

   A bibliografia é imponente, há índices de autor e versos. A introdução e respectivas notas, as informações sobre o aparato crítico são bilingues inglês-português. A transcrição das cantigas é feita em galaico-português. Mas, e aqui tem de ser feito um reparo, as notas explicativas são bilingues (na pág. 288 - em que nos explica o «ed oi lelia doura» que tanto fascinou Herberto Helder; ou na pág. 349, por exemplo), enquanto as notas ao aparato crítico são exclusivamente em inglês: facto um pouco insólito, dado que tem como público-alvo os estudantes e os estudiosos.

 

Helena Barbas [Expresso, 2003]

 


500 Cantigas d’Amigo - Edição Crítica de Rip Cohen, Campo das Letras, Lisboa (2003)


 

 

 

 

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